EXPERIMENTO PARA CURA

14/11/2015 19:44
Experimento para cura da Xeroderma alcança os primeiros resultados
 
Por Sofia Soares 
Edição Ano: 45 - Número: 50 - Publicada em: 23/06/2012

São Paulo (AUN - USP) - O DNA do nosso corpo não é estável. Raios do sol, radiação, radicais oxidativos, mutações químicas, agentes antitumorais, entre outros fatores lesam o nosso material genético todos os dias.

Se você tem uma lesão no DNA você induz respostas que podem envolver o ciclo celular. Uma lesão pode ser replicada e fazer uma mudança na sequência de bases. É a chamada mutação, que pode ser uma evolução ou pode ser um câncer. A lesão no DNA também pode bloquear diversos processos celulares, causando a morte da célula (apoptose). Há um lado positivo nisso, se a célula morta for cancerosa, mas há o lado negativo também, pois a morte de células normais causa o envelhecimento do organismo.

Segundo Carlos Menck, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), para evitar a ocorrência de lesões, o organismo celular possui um mecanismo de prevenção: o check point. O check point faz parte do ciclo de reprodução celular. Quando a célula chegua nesse estágio, enzimas de reparo analisam o DNA e verificam se há a presença de lesões. Caso tenha ocorrido alguma, a enzima faz o reparo e a célula pode prosseguir com o seu ciclo.

Existem, entretanto, diversas doenças que são causadas por problemas no reparo do DNA. A síndrome de Cockayne (CS) e Xeroderma pgmentosum são dois exemplos. A xeroderma pigmentoso, como é chamada no Brasil, é uma doença rara, descoberta em 1968 por James Cleaver.

Menck explica que a doença atinge um em cada 200 mil nascimentos. É caracterizada por extrema fotossensibilidade, alto nível de câncer de pele nas regiões expostas à luz do sol e anomalidades neurológicas. Dos pacientes portadores, 20% a 30% têm desenvolvimento de envelhecimento precoce. Eles desenvolvem câncer de pele a partir dos 10 anos, enquanto indivíduos normais só desenvolvem melanomas depois dos 50 anos.

A busca por uma resposta
No Brasil, a primeira instituição destinada a pacientes portadores de Xeroderma Pgmentoso foi a Apoderma (Associação dos Portadores de Xeroderma Pigmentoso do Estado de Goiás). Mais tarde surgiu a Abraxp (Associação Brasileira de Xeroderma Pigmentoso). As últimas pesquisas, em laboratório, procuravam encontrar uma terapia gênica para a doença, com base no uso de adenovírus.

Os adenovírus compreendem uma ampla família de vírus não-envelopados que contém uma dupla fita de DNA genômico. Adenovírus recombinantes, para experimentos de transferência gênica, devem ser defectivos em genes essenciais. Isso permite não só impedir a replicação viral como também cria espaço no genoma do vírus para a introdução de um gene novo.

A intenção inicial era infectar o paciente com um adenovírus geneticamente modificado. O gene inserido no adenovírus estimularia a produção das proteínas carentes da célula, devido aos defeitos no DNA do paciente (defeitos esses que não conseguem ser reparados). Os recentes experimentos in vitro, com base nessa teoria, utilizaram camundongos portadores deXeroderma Pigmentosum e alcançaram sucesso. Houve um problema, porém.

A primeira injeção de adenovírus funcionou, e os camundongos puderam ser expostos ao sol sem sofrerem efeitos colaterais. Depois de alguns dias, eles precisaram de uma nova dose do adenovírus. Entretanto, o corpo do camundongo já tinha produzido anticorpos contra o efeito da infecção de adenovírus e o antídoto não fez mais efeito. Como driblar esse “porém” tem sido um desafio para os pesquisadores do laboratório da USP.

Os resultados dos últimos experimentos ainda não revelam uma cura, mas são algumas respostas positivas que começam a aparecer. Elas representam uma esperança para os portadores da doença de que a cura pode vir nos próximos anos.

Fonte: Instituto de Ciências Biomédicas